A renda também chegou com força, desde o verão, e adentrou no inverno
esta, particularmente é minha predileta entre todas as tendências, sempre
que o bom gosto prevalecer é eterna, chique em qualquer ocasião...
Sabe-se que povos muito antigos usavam tecidos
cujo aspecto se assemelhava a renda e que se presume
fossem elaborados de forma semelhante à renda atual.
Admite-se que os Fenícios podem ter sido agentes divulgadores
das rendas, através das suas trocas comerciais e, portanto,
também ao longo da costa marítima portuguesa,
onde estabeleciam contatos priviligiados.
Outra corrente afirma terem chegado ao nosso país através
dos contatos com o norte da Europa, onde a arte
apareceu nos seus principais portos.
Indefinida que está a sua origem resta apurar a data do seu
aparecimento no nosso país e, como tal, consta que a primeira
vez que se falou na palavra renda, entre nós,
terá sido no reinado de D. Sebastião em 1560.
No reinado de D. João V o país foi inundado e influenciado
pelas rendas com origem na Flandres, dado que o protocolo
da corte obrigava ao uso das rendas flamengas, fato que
veio prejudicar o desenvolvimento das nacionais.
E foi assim que na classificação das rendas se passou a
denominar de aristrocáticas, hoje em Peniche chamadas
eruditas, aquelas que imitam as estrangeiras por serem
mais elaboradas e utilizando linhas finas, e as populares
que são aquelas que tradicionalmente sempre foram feitas pelo povo.
"ONDE HÁ REDES HÁ RENDAS"
e Peniche não foi excepção, como não foram quase todas
as povoações do litoral onde se desenvolve atividade piscatória.
Num livro publicada em 1865 pelo então capitão do porto Pedro Cervantes de Carvalho Figueira
refere-se que umas senhoras, que na época contavam mais de oitenta anos,
afirmavam que a sua tia/avó lhes mostrava piques das rendas que tinha feito em menina,
o que atesta que as rendas, em Peniche, já se faziam em meadoa do século XVIII.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4nA2u44u6cI6phPz2xVPaydOFJlzgCbYplgRQpEE9zyeStilEfvNG8S1TsCJE7v0joX4sdxfGUEg1Ir8aLjvuamUVsKgdTnGswT9r2nqKxnss0wKTsbM0Ql1BHlX08PB0YHeIsmxZ2eo/s320/EU+RENDA3+28+08+2011.jpg)
Consta que em 1836 a mulher do Conde de Casal
(que aqui se encontrava como governador da praça),
analizando as rendas grosseiras que aqui se faziam,
entendeu que, se se usassem materiais mais delicados,
como linhas mais finas e desenhos elaborados,
seria possível obter produto de melhor qualidade.
Com o auxílio de um engenheiro em serviço na praça
pôs em ação o seu plano, do que resultou sensível
melhoria da qualidade, o que permitiu que as nossas
rendas fossem premiadas em eventos internacionais
logo nos anos de 1851 (Paris e Londres),
1857 e 1861 (Porto), 1872 (Viena de Áustria) e 1878 (Paris).
Em 1887 foi criada a Escola Industrial D. Maria Pia
com uma seção de rendeira, que deu continuidade
ao rejuvenescimento encetado em 1836.
Foi sua primeira diretora a D. Maria Augusta Bordalo Pinheiro
que impulsionou o artesanato através da criação de novos e perfeitos desenhos. Assim as nossas rendas voltaram a ser premiadas em
1889 (Paris), 1893 (Belém) e 1895 (Paris).
Da Escola Industrial D. Maria Pia resultou a Escola Josefa de Óbidos, posteriormente denominada Escola Industrial de Peniche e entretanto a sua actividade passou a integrar a Escola Secundária de Peniche, onde hoje nada existe sobre rendas e o seu espólio acabou por ser desbaratado.
Paralelamente à atividade destas escolas existiu a Casa de Trabalho das Filhas dos Pescadores,
que estava na dependência da Casa dos Pescadores e que, ao longo de quatro décadas,
constituiu uma forma de assistência às filhas dos pescadores,
com base nos ensinamentos ministrados, entre os quais a renda,
e de um pequeno salário base.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvKSdH2ZmIo6ilZk2SfzVskyARCEbvTm0_E_oanZhr1dnuWJqzkQGCoUGJ8XdgVFuvi42aeoYWy7UZzl6q_g5lFPU-ybhTfMa1vJd8xv3pnb4b3WheEdvT1PmsXuC7I1Ahy5G5EVHX9Yg/s320/renda+vermelo+c%25C3%25B3pia.jpg)
Também a paróquia, por iniciativa de Monsenhor Bastos,
em fase crítica da produção de rendas, criou uma oficina
de rendas junto do Lar de Santa Maria.
Finalmente a Câmara Municipal de Peniche,
em Setembro de 1987, abriu uma Escola de Rendas,
que se encontra a funcionar com a frequência de adultos e crianças.
Por iniciativa particular de um grupo de interessados na,
preservação das rendas de Peniche foi fundada em
Setembro de 1994 a Associação Peniche Rendibilros,
com o objectivo de preservar e promover a aprendizagem e divulgação das rendas de Peniche.
A REALIDADE ATUAL -
Observa-se, neste momento, o renascer do interesse pelas rendas, mercê do apoio que tem sido prestado pela nossa autarquia, como contrapartida do desinteresse do Governo Central que retirou o curso das rendas das escolas oficiais, mantendo a escola referida, promovendo concursos anuais e instituindo a semana da renda, onde se salienta a passagem de modelos com aplicações de renda em vestuário, terminando com o Dia da Rendilheira como acção pública de divulgação e promoção das rendas.